Falta pouco mais de dois meses para o gaúcho Celestino Costella, de 89 anos, completar um feito para poucos: concluir uma faculdade. Depois de mais de sete décadas longe da sala de aula, o aposentado, enfim, realizou o antigo sonho de estar na universidade. A cerimônia de colação de grau no curso de pedagogia já tem data marcada: 27 de agosto.
“Sempre quis estudar. Vim de uma família muito grande e tive que trabalhar, ajudar em casa. E aí não pude estudar naquela época”, conta ele.Costella fez da época atual uma nova oportunidade para buscar a realização daquilo que tanto queria. Ele é o aluno mais velho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), na serra gaúcha. Desde 2009, viaja de Veranópolis, onde hoje vive com a esposa Maria, de 84 anos, com destino ao campus da Região dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Uma rotina que transformou sua vida. “Estou muito feliz. Não pensava que chegaria até aqui aqui”, comenta, com orgulho.
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DICA DE ESTUDOS
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[mks_two_thirds]Nascido na pequena comunidade de São Valentim, no interior da cidade para onde se mudou há 30 anos, Costella nasceu em uma casa simples, onde dividiu a infância com outros 16 irmãos. Para ajudar com o sustento familiar, interrompeu os estudos quando estava no 5º ano. [/mks_two_thirds]
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Passou então a trabalhar na colônia com os pais, e anos mais tarde trocou o campo pela estrada, transportando cargas em caminhões.
“Na hora de me aposentar, resolvi que ia voltar a estudar. Eu sempre quis, era um sonho meu. Fiquei 74 anos sem estudar”, pontua ele.
Já aposentado, Costella fez o EJA (Educação de Jovens e Adultos), concluindo a primeira etapa almejada: o Ensino Médio. “Depois eu fui adiante, queria ver o que era essa tal de faculdade”, ri ele, com o peculiar sotaque influenciado pelo sangue italiano.
Em 2009, procurou as atividades do programa da Universidade da Terceira Idade – hoje UCS Sênior, projeto acadêmico destinado a pessoas acima de 50 anos de idade. Matriculou-se nas disciplinas de “Memória: qualificando a vida”, “Informática” e “Filosofia da História” e descobriu o gosto pelo curso de pedagogia.
“Fiz muitas disciplinas em um semestre. Depois consultei informações sobre qual seria a melhor opção de curso para mim, para aproveitar também as disciplinas que eu já tinha cursado. E deu pedagogia. Fiz a redação e fui aprovado”, conta.
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As conquistas que os mais velhos costumam atribuir aos estudos mostram que o papel da escola e da universidade vai muito além de preparar e conduzir ao mercado de trabalho. Para eles, estar na sala de aula traz outros benefícios, muito maiores.
“Aprender sobre educação mudou minha maneira de ver as coisas. A experiência de estudar muda a maneira de se viver, de conviver com a sociedade”, diz ele.
A turma de Costella era, em maioria, formada por mulheres. Ao lado delas, o formando frequentou palestras, seminários e semanas acadêmicas. “Eram colegas todos muito jovens, e a maioria era menina. Mas para mim foi um sucesso. Todos eram muito bem educados. A gente fazia trabalho em grupo e tudo. Eles me aceitaram como eu sou”, descreve.
Festa de formatura vai celebrar também aniversário de 90 anos
No dia 27 de agosto, a família Costella vai se reunir para comemorar o diploma. E a festança vai ser animada: o formando reunirá os 11 filhos, 15 netos, mais bisnetos, noras e genros. “E outros convidados ainda”, brinca. “Vai passar de 100 pessoas”, completa, empolgado.
A data também vai celebrar os 90 anos do patriarca, completados em 4 de agosto, e o aniversário de 66 anos de casamento dele e da esposa Maria, de 84 anos. “São três festas em uma. Aí dá pra gastar um pouquinho de dinheiro”, diverte-se.
Apesar da idade avançada, Costella não quer parar após a formatura. “Minha idade não facilita muito, sabe? (risos). Mas parar mesmo, eu não vou parar”, garante ele. Ele não confirma se irá exercer a profissão de alguma forma, mas reconhece que o aprendizado adquirido durante a graduação ficará guardado para o resto da vida. DO G1